terça-feira, março 15, 2011

Herrera: um atacante de sangue argentino com espírito carioca

“Mas ele não se entrega”. Essa é a resposta comum de membros de diretoria e comissão técnica do Botafogo quando questionados sobre o instável início de temporada de Herrera. A confiança é tão grande no jogador por seu comportamento em campo que seus companheiros de clube resolveram ajudá-lo a recuperar o bom futebol. O resultado começou a aparecer no último sábado, quando o argentino marcou dois gols na vitória por 4 a 0 sobre o Americano – quebrando um jejum de seis partidas sem marcar – e foi abraçado por quase toda a equipe. Um sinal de retribuição por toda a disposição do atacante neste um ano de Alvinegro.

O fim de 2010 foi complicado para Herrera. Uma cirurgia no ombro esquerdo o deixou três meses parado. O início da atual temporada tem sido de recuperação, com altos e baixos, mas nem por isso o atacante desanimou. Para ele, dedicação integral não é sacrifício, mas obrigação. Até porque, para o camisa 17 alvinegro, o futebol se resume ao que acontece dentro das quatro linhas.

- Futebol é uma das coisas mais importantes da minha vida. Quero ganhar todos os jogos, mas sei que do outro lado existe um rival que dificulta. Jamais me abalo. Dou meu máximo e tenho a consciência do que acontece numa partida não tem volta. Se houve algo de ruim, é levantar a cabeça e se preparar para o próximo. Depois das partidas, o mais importante é ficar com minha família. Não quero que minha filha me veja com uma fisionomia triste - disse.

Casado há quatro anos com Jaqueline – de quem está junto há dez – e pai de Abril, de três anos, Herrera é o lado recluso da dupla de ataque Mercosul. Enquanto o uruguaio Loco Abreu se mostra extrovertido e sempre disposto a emitir suas opiniões, além de ser quase um personagem do Botafogo, o argentino é tímido e sisudo, mas não menos identificado com o Alvinegro e, principalmente, com o Rio de Janeiro. Por isso, receber a reportagem do GLOBOESPORTE.COM em sua casa foi, além de uma raridade, uma oportunidade de mostrar o outro lado de alguém que valoriza a privacidade.

- Não tenho Twitter e nem Facebook, pois acho que algumas coisas não devem ser compartilhadas. Sou uma pessoa normal, divertida em casa com a família e com os amigos. Muitos realmente não conhecem esse meu lado. De repente a pessoa que aparece na mídia todos os dias tem maior visibilidade, mas não me importo com isso. Se for reconhecido, é porque fiz coisas boas. Não sei se é certo ou errado, mas é minha maneira de ser - destacou ele, que nesta segunda-feira de folga aproveitou para relaxar no sofá da sala, navegar por seu site oficial (www.herrera17.com.br) e caminhar pelo condomínio onde mora enquanto sua filha estava na escola.

Depois de morar em Porto Alegre, quando defendeu o Grêmio, e em São Paulo, quando vestiu a camisa do Corinthians, Herrera não esconde a preferência pela Cidade Maravilhosa. Ele tomou gosto pela praia e pelo estilo de vida carioca. E apesar de não segui-lo à risca, revela admiração pelo Brasil, mesmo garantindo voltar à Argentina quando encerrar a carreira.

- Joguei três anos na Argentina como profissional e estou há cinco anos no Brasil. Sou argentino e levo meu país no sangue, mas guardo muitas coisas boas daqui. O povo brasileiro é muito afetivo e recebe todos bem. Não penso em voltar a jogar na Argentina agora, mas vou viver lá quando me aposentar, pois quero estar perto dos meus pais e gostaria que minha filha estivesse com eles também - explicou o atacante de 27 anos.

Herrera admite ter ouvido de muitas pessoas o pedido de que se naturalize brasileiro e busque uma vaga na Seleção. O atacante, que defendeu apenas a sub-20 da Argentina, se diz honrado com o prestígio, mas segue sonhando com um lugar entre os hermanos. Embora também não esconda o descontentamento com o que diz observar sobre o funcionamento da seleção de seu país.

- Gostaria de defender a Argentina, mesmo sabendo que é muito difícil. Muitos jogadores que deveriam não são valorizados. O Conca, por exemplo, foi o melhor do Brasil no ano passado e não teve uma chance. Por quê? Alguns atletas que atuam em clubes locais ficam esquecidos, mas depois que se transferem para a Europa são convocados. Isso não dá para entender.

Hoje, portanto, Herrera aproveita o Rio de Janeiro e o Brasil como local de trabalho onde encontrou o apoio incondicional da torcida do Botafogo. No futuro, terá na cidade o destino certo para o descanso com a família.

- Neste ano curti pela primeira vez o carnaval carioca na Sapucaí com minha mulher, e foi muito legal. No futuro, voltarei à cidade para passar as férias e repetir a experiência - brincou.

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