terça-feira, abril 26, 2011

No dia deles, os finalistas do Paulista atestam: goleiro bom se faz em casa

No esporte em que os pés são usados para levar multidões ao delírio com belos gols, eles têm nas mãos suas grandes aliadas para evitá-los. Sob olhares desconfiados e esperançosos de torcedores, vestem uniformes diferentes dos outros jogadores e, ao longo dos anos, ganharam certas "regalias", como ter um treinador exclusivo. Loucos ou iluminados, os goleiros conquistaram respeito, idolatria e até um dia próprio para comemorar. Neste 26 de abril, dia do goleiro, os quatro semifinalistas do Campeonato Paulista mostram que a receita mágica para ter um bom camisa 1 é formá-lo dentro de sua própria casa.

A homenagem teve início através de uma ideia do tenente Raul Carlesso e do capitão Reginaldo Pontes Bielinski, professores da Escola de Educação Física do Exército do Rio de Janeiro, em meados dos anos 70. O dia escolhido não foi por acaso. É a mesma data do nascimento de Manga, ídolo das torcidas de Botafogo e Internacional e goleiro da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra.

- É diferente porque as pessoas vão para o futebol para ver o gol e nós estamos ali para evitar que isso aconteça. Então, é uma posição diferente mesmo. Os considerados grandes jogos são aqueles em que saem muitos gols. Então, nós goleiros estamos sempre nessa contramão. Acho que, por tudo isso, merecemos, sim, ter um dia só nosso - celebrou o santista Rafael.

No San-São, um duelo de gerações

O duelo entre São Paulo e Santos, sábado, às 16h, no Morumbi, confrontará juventude e experiência na briga por uma vaga na grande decisão. De um lado, Rogério Ceni, 38 anos, e um caso de amor com o clube. Vindo do Sinop-MT, em 1990, passou pelos juniores e não demorou a fazer parte do elenco profissional, como terceira opção. Em 92, o Tricolor perdeu Alexandre, morto em um acidente automobilístico na rodovia Castelo Branco, fato que colocou Ceni como reserva imediato de Zetti.

Foram anos de paciência até que, em 1997, com a saída do bicampeão mundial, Rogério assumiu definitivamente a vaga, iniciando um período histórico e se transformando em um dos maiores jogadores da história do clube. São 972 partidas, 101 gols marcados (recorde para um atleta da posição) e uma série impressionante de títulos, com duas Libertadores, dois Mundiais, três Brasileiros e três Paulistas.

Contrapondo a experiência e o sucesso de Rogério Ceni está Rafael, de apenas 20 anos, o mais jovem entre os semifinalistas. O goleiro nasceu em 1990, mesmo ano em que Ceni vestiu a camisa do São Paulo pela primeira vez. Agora, terá a missão de parar as cobranças de faltas do tricolor. O goleiro chegou ao Peixe em 2003 e, com a saída de Fábio Costa e as atuações instáveis de Felipe, acabou ganhando uma chance no ano passado e não saiu mais.

- Isso (ser da base) é muito bom, pois prova que os quatro clubes investem bem em suas categorias de base. Eu fico feliz. Com apenas 20 anos, já sou titular da equipe - afirmou o goleiro que, em 2009, fraturou a perna direita durante um treino após uma entrada do zagueiro Domingos.

O paciente Julio Cesar e o 'cigano' Deola

Na outra semifinal, outros dois goleiros que vieram das divisões menores de seus clubes, mas precisaram de muito mais paciência para ganharem destaque. Poucas pessoas conhecem tão bem os corredores do Parque São Jorge quanto Julio Cesar. Praticamente metade da vida dele está ligada ao Corinthians. Contratado com apenas 15 anos em 2000, passou por todas as categorias da base alvinegra. Os títulos começaram por lá. Em 2004 e 2005, brilhou na conquista do bicampeonato da Copa São Paulo de Juniores, feito que o levou ao elenco profissional.

A vaga na equipe, contudo, só apareceu depois que Felipe entrou em atrito com a diretoria e acabou negociado com o Sporting Braga-POR, em meados de 2010. O Timão ainda buscou o veterano Aldo Bobadilla, mas Julio não deu chances e agarrou a posição – o paraguaio pediu a rescisão de contrato sem sequer ter estreado. Entre muitos milagres e poucas falhas, o camisa 1 se transformou em titular absoluto e em um dos pontos de segurança do time.

- É sempre bom comemorar o nosso dia. Todo goleiro é meio louco. O trabalho de base com os goleiros vem crescendo há tempos. Estamos tendo mais espaço. O goleiro precisa de confiança e uma sequência de jogos para se firmar. É sempre difícil ter uma chance, mas o Corinthians me deu essa oportunidade e consegui ficar - disse Julio Cesar.

Não é fácil conviver com a sombra de São Marcos, principal jogador do elenco e ídolo maior da torcida. Mas Deola, a cada dia, se firma como o herdeiro da camisa 1 do Palmeiras assim que o santo goleiro pendurar as chuteiras, provavelmente no fim de 2011. Aos 28 anos, o camisa 22 só virou titular no segundo semestre do ano passado, porém, sua história com o Verdão é bastante longa.

Juvenil, Deola foi contratado pelo Palmeiras no fim de 1999 depois de se destacar em um amistoso contra o Alviverde atuando pelo Atlético Sorocaba. A chegada ao elenco principal demorou. Foram empréstimos para Sãocarlense-SP, Guarani, Juventus-SP, Grêmio Barueri e Sertãozinho-SP. A chegada à equipe principal aconteceu apenas em 2009. Com Marcos machucado e Bruno instável, Deola dominou o posto.

- A experiência em outros clubes e na base foi fundamental. Não sei se teria esse tempo de aprender no Palmeiras. O aprendizado que tive me deixou pronto para poder jogar aqui como titular - destacou.

Apesar da fama e de caírem nas graças de seus torcedores, os goleiros ainda têm algo a reclamar da profissão: os salários. Segundo eles, os vencimentos continuam muito abaixo do que os atacantes recebem.

- Com certeza, o goleiro ainda é o jogador que menos ganha. Não dá para comparar com um atacante - disse Deola.

Dinheiro à parte, o trio de goleiros recebe elogios rasgados do “vovô” da turma. Em suas últimas temporadas, o camisa 1 do São Paulo exalta seus concorrentes e acredita que, em breve, poderá vê-los com a camisa da Seleção Brasileira.

- O Julio Cesar e o Deola são um pouco mais experientes. O Rafael é mais jovem, mas já vem com experiência de Libertadores. Não tenho dúvida de que são goleiros que têm tudo para defenderem suas equipes por vários anos. Quando eu parar, um dia, quem sabe não vejo um deles na Seleção. Torço por eles - finalizou Rogério Ceni.

É esperar para ver.

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