quarta-feira, maio 18, 2011

Recomeço na Serra

Jogadores do Fluminense começam outro dia de trabalho na Granja: momento para reconstrução (Foto: Nelson Perez) Jogadores começam jornada na Granja: momento para reconstrução (Foto: Nelson Perez)
A Granja Comary é pano de fundo para duas histórias de redenção. O Fluminense escolheu o refúgio da Seleção para ser o ponto de partida de um recomeço no ano resumido pelo fracasso, o mesmo CT que é paisagem na janela do apartamento recém-adquirido por Fernando Pfister, 31 anos, e Verônica Dutra de Paiva, 29, um casal que teve a vida tragicamente marcada pelas chuvas de janeiro.

Eles enterraram dois filhos e querem fazer o mesmo com os outros dois que ainda não encontraram. Mas a vida continua. O casal recebeu a ligação de um empresário disposto a ajudá-los. No encontro, em Teresópolis, contaram que perderam desde os filhos até a casa em Santa Rita, área rural da cidade. Foi aí que ouviram a frase: “o que posso fazer por vocês?” – Eu disse que queria os meus filhos. Ele disse que não poderia fazer isso, mas que eu poderia procurar uma casa em qualquer lugar que ele a compraria – conta Verônica.
Casal na janela do novo apartamento: vista para a Granja Comary (Foto: Bruno Marinho)
Mais tarde, descobriram que o homem é um ex-presidente de um grande clube do Rio. A identidade, não revelaram. Desde então, Fernando e Verônica tentam reconstruir a vida.

– Eu preferia o que tínhamos antes, mas creio que tudo vai melhorar – disse o carpinteiro.

É exatamente o que o Fluminense espera. Depois de cair no Carioca e na Libertadores, de ver Muricy Ramalho e Emerson deixarem o clube de forma traumática e passar por crise política, o Tricolor junta os cacos na Serra, onde cada morador parece ter a sua parte a recolher do chão.

– Ainda tem muitos precisando de ajuda. Meu sonho é que a cidade volte a ser o que era antes. Se possível, até melhor – concluiu Fernando.
EX-DIRIGENTE BANCA ATÉ INSEMINAÇÃO
Depois de perderem Hiago, com 11 anos, Hiasmin, com nove, Caroline, com seis, e Cauan, com um, Fernando e Verônica sonham com mais filhos. O problema é que esbarraram numa decisão do passado. Depois do caçula, eles fizeram vasectomia e ligadura das trompas. A única solução seria a inseminação artificial. O ex-presidente de um clube do Rio decidiu, então, arcar com os custos do procedimento, avaliado em cerca de R$ 8 mil.

O ex-dirigente soube do casal por intermédio do vice-governador Luiz Fernando Pezão, que ouviu a história dos dois num programa de rádio. O ex-presidente deu um cheque de R$ 5 mil para a compra de móveis e eletrodomésticos para a casa. Lojas da cidade também colaboraram com o casal.
CORPOS AINDA ESTÃO SENDO ACHADOS NOS ESCOMBROS
Quatro meses após a tragédia que matou 373 em Teresópolis, a cidade ainda vive os efeitos do fatídico dia 12 de janeiro. Bairros como Campo Grande, Posse e Caleme ainda parecem cenário de guerra.

Obras na região tentam normalizar o abastecimento de água enquanto tratores e escavadeiras retiram toneladas de pedras e lama. Segunda-feira, a imprensa local disse que ossos de uma criança foram achados no bairro da Posse.

O comércio caiu, com a falência de lojas de roupas por conta do volume de doação de vestimentas acima da demanda. Mesmo quem não teve perdas pegou os donativos.

Para completar, a população na cidade anda insatisfeita com o prefeito Jorge Mário Sedlacek.

– Fizeram a limpeza só dos bairros. Era para dar mais atenção aos desabrigados – disse Delcir da Silva, 41 anos, auxiliar de serviços gerais.
Corpos soterrados ainda são procurados (Crédito: Nelson Perez)
JULIO CESAR: 'QUE CIDADE E O FLU TENHAM MAIS SORTE'
A sorte que brilhou para o casal Fernando e Verônica seria muito bem-vinda para o Fluminense e o restante da cidade de Teresópolis. Jogadores fundamentais para o time no passado, como Mariano, Conca e Fred, não conseguem repetir as mesmas atuações. A cidade também precisa de melhor sorte. A torcida é para que um temporal como aquele não se repita. Caso ocorra, será difícil conter as perdas.

– Ficamos muito tristes com o que aconteceu aqui. Tenho amigos e parentes na cidade, ajudei como pude. A minha torcida é para que Teresópolis e o nosso time tenham mais sorte daqui para frente. Espero que chuvas como aquela não se repitam – afirmou o lateral Julio Cesar.

Após a coletiva de ontem, o atacante Rafael Moura também se mostrou chateado com o que aconteceu tão próximo do lugar no qual a diretoria escolheu para recomeçar na temporada deste ano.

– Foi tudomuito ruim de se ver. Vimos os esforços que foram feitos. Que a cidade possa se recuperar o mais rapidamente possível. Torcemos por Teresópolis – ressaltou.

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