terça-feira, fevereiro 22, 2011

Jornalista americano quer ser a 'voz do povo' na presidência da Fifa

Ser presidente da Fifa é o sonho de muitos dirigentes do futebol. E, literalmente, também virou o sonho do jornalista americano Grant Wahl, de 37 anos. Em uma madrugada recente, o repórter da revista "Sports Illustrated" acordou com uma ideia na cabeça: concorrer contra Joseph Blatter na eleição do dia 1º de junho. Saiu da cama, entrou na internet, leu os estatutos e viu que seria possível. Para ser candidato, bastaria receber a indicação de uma das 208 federações filiadas à organização. A carta de recomendação, ele ainda não conseguiu. Mas vários planos já passam por dentro da careca de Grant. Sua intenção é modernizar as regras e, principalmente, ouvir o que os torcedores têm a dizer.

- Se eu for indicado, vou concorrer. Não é piada, não é brincadeira. Se os fãs do futebol votassem, eu ganharia. Mas não são eles... São as federações... Sou realista, mas acho que é hora dos fãs do futebol terem voz e eu estou representando esta voz - disse o americano, por telefone.

Grant é um dos principais jornalistas esportivos dos Estados Unidos e, provavelmente, o que mais gosta de futebol. Já passou por 26 países fazendo entrevistas com grandes nomes do esporte - como Drogba, Henry e José Mourinho -, cobriu cinco Copas do Mundo e três Olimpíadas e escreveu um dos livros mais vendidos no país no ano passado: "The Beckham Experiment", sobre a passagem do meia inglês pela MLS.

Na última quinta-feira, Grant virou notícia nos principais sites e jornais esportivos do paneta após publicar em seu blog a intenção de concorrer à presidência da Fifa. Entre seus projetos, estão o uso de tecnologia para decidir se a bola entrou ou não; a indicação de uma mulher para o cargo de secretário-geral, atualmente exercido por Jerome Valcke; não dar cartões em comemoração de gols; e colocar na internet todos os documentos da Fifa.

- Eu faria uma espécie de Wikileaks da Fifa, deixando o mais transparente possível - contou o americano, lembrando o site que exibiu vários documentos sigilosos do governo americano.

A ideia de Grant ganhou repercussão na internet. Vários seguidores do Twitter fizeram campanha (como o jogador de basquete Steve Nash, fã de futebol) e lançaram o slogan "Change Fifa" ("Muda Fifa"). O jornalista passou a usar em seu Facebook uma foto imitando o cartaz da candidatura de Barack Obama à presidência dos Estados Unidos.

Para o americano, a denúncia da imprensa inglesa sobre venda de votos para a escolha das sedes das Copas de 2018 e 2022 manchou a imagem da Fifa e nada foi feito por Blatter. Grant reclama ainda da ausência de mudanças no comando da organização: o brasileiro João Havelange ficou no poder de 1974 a 1998, quando foi substituído pelo suíço, que está na presidência até hoje. O jornalista diz também que a possível candidatura de Mohammed Bin Hammam, presidente da Confederação Asiática, não representaria uma mudança profunda.

Abaixo, confira a entrevista completa com Grant Wahl:

GLOBOESPORTE.COM: Como surgiu a ideia de ser candidato à presidência da Fifa? É uma brincadeira ou você está falando sério?

GRANT WAHL: Fico feliz que as pessoas tenham acesso à minha candidatura e deem um sorriso. Mas ao mesmo tempo não estou brincando, não é uma piada. Tive a ideia de madrugada, na cama... Acordei e comecei a pensar que o Blatter ia se candidatar de novo, sem oposição... E a Fifa diz ser uma grande democracia, mas democracia tem eleições com mais de um candidato. Entrei no site da Fifa, vi as regras da eleição e descobri que nada impede ninguém de ser candidato. O que você precisa fazer é ser indicado por um país filiado até o dia 1º de abril, que é a data limite. Então, pensei: por que não concorrer?

Depois que você publicou sua ideia, recebeu muitas mensagens de jogadores pelo Twitter, certo?

Sim... Conversei com o Steve Nash, que joga basquete pelo Phoenix Suns e adora futebol, com o Freddy Adu, que já foi da seleção americana. O comediante Mike Myers também mandou mensagem. Até o Xabi Alonso, meia do Real Madrid, me mandou um "boa sorte"!

Perguntamos à Fifa o que ela tem a dizer sobre sua candidatura e ela respondeu apenas "sem comentários". Você não teme represálias? Como perder credenciais para Copa do Mundo...

Ainda não conversei com ninguém da Fifa sobre isso. Li as regras no site, as informações que eu precisava estavam lá. Eu espero que as pessoas da Fifa tenham bom humor sobre a minha candidatura, que vejam que eu falo sério sobre como penso que o futebol deveria ser. Não tenho medo... A Fifa conhece minha história, escrevo na "Sports Illustrated" desde 1996, passei muitos anos escrevendo sobre futebol e trazendo atenção a este esporte nos Estados Unidos. É uma revista muito popular, que ajuda a Fifa a popularizar o futebol neste país. Eu amo futebol.

É importante dizer que não tenho nada pessoal contra o Blatter. Sempre ouvi que ele é um bom sujeito. Na última Copa, tivemos a mesma massagista em Joanesburgo. E ela me falava muito bem dele, disse que ele era legal, que dava ingressos e boas gorjetas. Mas, ao mesmo tempo, é importante dizer publicamente que a Fifa precisa de mudanças.

Pela repercussão que sua ideia teve, você se sente um líder desse movimento por mudanças na Fifa?

Não... Tive muitas respostas positivas de vários lugares do mundo. Mas não por mim, mas pelo que as pessoas sentem sobre a Fifa.

Você já procurou o apoio de alguma federação que o indique para a eleição?

Ainda não. Preciso de apenas um país. São 208 na Fifa. Qualquer um pode me indicar: um grande, como o Brasil, ou um pequeno da África. Esse país pode mandar uma mensagem para a Fifa me indicando até o dia 1º de abril. Ao mesmo tempo, quem me indicar não é obrigado a votar em mim.

Qual é a principal mensagem que você quer passar com essa possível candidatura?

O futebol é o maior esporte do mundo e precisa ter a melhor organização do mundo. Agora, a Fifa não é a melhor organização, não está com boa reputação. Como presidente, faria várias mudanças. Por exemplo, acho que seria importante ter uma mulher no poder, como secretária-geral, que é o principal cargo. O presidente também não poderia ficar mais de oito anos no cargo. O jogo precisa de muitas mudanças, isso é importante.

Você fala em tecnologia, replay nos telões dos estádios... Os erros da arbitragem na última Copa influenciaram suas ideias?

Sim. Muitas pessoas do mundo todo viram o que aconteceu na Copa. Teve o gol do Lampard contra a Alemanha que não valeu... Aquele gol em impedimento do Tevez na partida entre Argenti na e México, que passou no telão e toda torcida viu, menos o juiz. No futebol americano, o árbitro pode ver um lance duvidoso na televisão e mudar o pensamento. Isso deveria acontecer na Fifa.

Resumindo, sua candidatura é séria? Se você for indicado por uma federação, vai se candidatar?

É isso. Se eu for indicado, vou concorrer. Eu entendo que é um processo longo. Minhas chances de ganhar não são grandes. Mas é importante mandar essa mensagem para a Fifa e para os fãs do futebol.

Acha que ganharia quantos votos?

Se os fãs do futebol votassem, eu ganharia. Mas não são eles... São as federações... Talvez eu tenha uns dois votos (risos). Sou realista, mas acho que é hora dos fãs do futebol terem voz e eu estou representando esta voz.


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